A tradição por 4 gerações
Em 27 de outubro de 1880 nasceu em Rio Claro, no estado de São Paulo, Linneo de Paula Machado, filho de Francisco Vilella de Paula Machado, médico conceituado, e Sebastiana Augusta Mello Franco de Paula Machado, neta do 1º Barão de Araraquara e 1º Visconde de Rio Claro.
Desde os sete anos Linneo assistia e gostava de corridas de cavalo. Foi quando estava com essa idade que seu pai adquiriu do coronel Bento Bicudo um cavalo francês de puro sangue, filho de Ruy Blas e Charlotte, chamado Carestiamble, para montaria e para servir as éguas de uma chácara de sua propriedade, em Rio Claro. Nessa época a fazenda São José, fundada por seu bisavô em 1839, ainda pertencia aos herdeiros de seu avô, o Visconde do Rio Claro.
Em 1894, Linneo foi para Paris e lá ficou até 1903. Aos 16 anos fez seus estudos no Lycée Janson de Sally e depois na École des Hautes Études Commerciales.
Na Cidade Luz, durante cerca de nove anos, não perdia uma só corrida, quer aos domingos quer às quintas-feiras, seguindo com o maior interesse e dedicação as corridas do turfe francês.
Ao voltar para o Brasil, pediu ao seu pai, o Dr. Francisco Vilella de Paula Machado, já então proprietário da Fazenda São José, para fundar um haras. Seu pai, também apaixonado pelo turfe, consentiu no seu pedido e, em 1906, deu-se o início ao Haras São José, em Rio Claro.
Linneo logo partiu para a Europa, onde adquiriu 11 éguas e os garanhões Flaneur II e Zimpanet, enquanto seu pai ficou na fazenda providenciando as instalações. Dentre as éguas que importou estavam Juracy, Amandine, Flotte Russe e France, esta filha de Xantrailles, potro que foi líder de sua geração na Europa junto com a potranca Plaisanterie, ambos da geração de 1882.
Juracy, que nasceu na Inglaterra em 1900, acabou por ter uma importância das mais significativas, pois sua linha feminina vem há um século gerando produtos de expressão para o Haras. Ela é da mesma linha tronco feminina de: West Australian (Tríplice Coroado inglês), Vândalo (GP Derby Paulista), Xaveco (reprodutor líder no Brasil), Bretagne (GP São Paulo, GP Henrique Possolo), Dimane (GP Diana, e Taça de Prata) mãe da clássica Vacilação, Gentlemen (Gran Premio Nacional, Polla de Potillos, na Argentina e Pimlico Handicap, nos Estados Unidos) e Danzig, importantíssimo reprodutor norte-americano.e notável avô materno.
O primeiro cavalo a nascer no Haras São José foi Aragon, importado no ventre de Flotte Russe, filha de Byfleet, meia irmã de Quintette, ganhador do Prix du Jockey Club, o derby francês. A bisavó de Aragon, Armanda, era avó de Haeume, ganhador de duas provas da “tríplice coroa francesa”.
Desde o primeiro produto, Linneo tinha a preocupação de procurar parentescos estritamente clássicos nas linhas maternas.
Ao se mudar para o Rio de Janeiro em 1909 e lá fixar residência, Linneo passou a colaborar estreitamente com o Jockey Club Fluminense. Em 28 de agosto de 1910, com a vitória de Bien Aimée no “Clássico Criadores”, o sucesso de sua criação se solidifica e ele e o pai e são honrados como turfistas estimados e reconhecidos. Aliás, essa mesma égua, de sua criação, rendeu-lhes muitas outras alegrias, pois foi vencedora de: GP Ipiranga, GP Progresso - Derby Club, GP Initium - Derby Club, GP Expositores e o Clássico. Henrique Possolo.
Em seguida, começaram a conquistar outros prêmios de expressão para um criador: You You ganha o GP Diana em 1914; Guatambu (vendido por Linneo) ganha o Derby em 1916; Hurra! ganha o Derby em 1917; J’Accuse ganha o Derby em 1918.
Em 24 de abril de 1911, Linneo casa com Celina Guinle, no Rio de Janeiro
A luta contra um grande mal chamado “ Cara Inchada “
Em 24 de março de 1912, Linneo perdeu seu pai, o Dr. Francisco Vilella de Paula Machado. Nesse dia de extrema tristeza, outra perda foi também profundamente sentida: o mal da Cara Inchada levava o campeão Flaneur. Essa doença era ainda completamente desconhecida pelos criadores sul-americanos, e nenhuma providência podia ser tomada contra ela. Para Linneo, suas conseqüências mostravam-se fatais: em toda a geração da letra “B”, só escapou Bien Aimée. Na da letra “C”, nenhum escapou, e na da letra “D”, apenas Domination; na da letra “E”, só o pequeno Expedictus salvou-se.
Incansável na busca de uma solução para o mal que estigmatizava o Brasil e como homem de visão e empreendedor que era, Linneo logo reconheceu no jovem veterinário belga recém-chegado ao Brasil, o Dr. Octávio Dupont, o cientista que poderia ser encarregado de estudar a doença que assolava as criações de PSI pelo país.
Este grande veterinário investigou as causas da moléstia. O mal conhecido como Cara Inchada, era uma osteopatia quimio-distrófica ou osteodistrofia, e manifestava-se de várias maneiras. Segundo o Dr. Dupont, “os sintomas que se observavam eram: torção nas cadeiras (tours dês reins) em algumas éguas, sinais de raquitismo em potros, alguns irregularmente desenvolvidos, crescimento da ossatura da face, além de fraturas diversas”. Em seus estudos, ele descobriu que na Indo-China e em Madagascar a doença era comum, devido exclusivamente à relação cálcio-fósforo do solo. As terras foram devidamente analisadas e corrigidas com todos os elementos em déficit para correção e fertilização de que careciam, e as pastagens foram transformadas. O problema que se afigurava insolúvel e parecia destruir a criação nacional estava resolvido - a Cara Inchada desapareceu por completo da criação brasileira.
Em 1913, Linneo viajou para a Europa em companhia de sua família para comprar cavalos de corridas e reprodutores. As cores deste stud brasileiro começaram então a figurar brilhantemente nas pistas francesas com as consecutivas vitórias de Maboul, adquirido por ele em Paris.
Sempre entusiasmado com a criação, Linneo continuou a sua meticulosa escolha na importação de reprodutores. Assim, Tarporley (GB), por St Simon e Ruth, vencedor do Prince of Wales Stakes e do Windsor Castle Stakes, foi comprado quando já era garanhão. Veio da França e desembarcou no Rio de Janeiro em ovembro de 1913. Junto com ele estavam Novelty, com cinco anos, por Kingston e Curiosity, e Thève, 2 anos, por Tagliamento e Thematta.
Novelty, por Kingston e Curiosity, nasceu nos Estados Unidos, onde, aos dois anos, foi o melhor produto de sua geração. Venceu o Futurity Stakes, o Hopeful Stakes, e outros ainda nos EUA. Importado para a França, venceu o Handicap de La Tamise, o Prix de l'Escaut, o Prix du Danube Sendo um ótimo corredor aos dois anos – fator que, em todo o mundo, só viria a se apresentar como algo importante, muito tempo depois –, encantou Linneo, que o trouxe para o Brasil. Tornou-se um excelente reprodutor. Mais uma vez, Linneo antecipava-se aos demais criadores na avaliação de um puro-sangue inglês. Este filho de Kingston, cuja linha paterna é a mesma de Man O'War, deixou cerca de uma centena de filhos, todos ganhadores, destacando-se por seus brilhantes feitos nas pistas os famosos Nemo, Santarém e Kitchner, pai de Mossoró.
Santarém firmou-se também como um reprodutor de valor com o tríplice coroado Funny Boy, o extraordinário Ever Ready, com o sprinter Holkar, Jahú e Luar, ambos vencedores clássicos de Grupo 1, e a brilhante Batuira, que foi líder de sua geração.
Seguiram-se ainda outras aquisições de sucesso:
Sin Rumbo (ARG), por Val d’Or e Meltona, era irmão inteiro de Ocurrencia, uma craque argentina que em 1915 venceu os GPs Polla de Potrancas (1,000 Guineas), Seleccion (Oaks), Jockey Club (Derby) e Carlos Pellegrini. Por sua vez, Sin Rumbo foi ganhador dos 2 aos 5 anos anos, sendo considerado um dos melhores flyers de sua época, em Palermo. Dentre seus filhos, destacam-se Questor; Sem Medo, Vendôme, Xenon, Xyleno e Young.
Bosphore (FR), por Colorado e Fiancée d'Abydos, venceu, na França, as importantes provas clássicas Prix d'Iena, e Prix Noailles Colocou-se em 6º no Prix du Jockey Club, o Derby Francês (2.400m, 17 competidores), onde era o favorito; em 3º no Prix Jacques le Marois (1.600m); em 2º no Grand International d'Ostend (2.200m); em 2º no Prix Royal Oak (3.000m), chegando na frente de Strip the Willow. Sua campanha no Brasil foi breve. Assim mesmo, obteve três vitórias. Dentre os seus filhos de maior sucesso estão Amilcar a muito boa égua Hainan, e o tríplice coroado El Faro.
Outra antecipação marcante de Linneo foi a compra de Formastérus (FR), por Astérus e Formose, pedigree que fazia parte do esquema genealógico típico da criação Edmond Blanc, herdada por Marcel Boussac e que, baseado nele, haveria de deter a hegemonia da criação francesa nas décadas de 1930 a 1950. Na França, aos dois anos, Formastérus correu apenas três vezes, com os seguintes resultados: 1º no Prix Faucher (1.300m) e 2º no Prix de Sablonville (1.000mDepois obteve os seguintes resultados: 1º no Prix Merlin (1.500m); 1º no Prix de L'Esplanade (1.700m); 1º no Prix de Rollepot (1.500m); 1º no Prix Edgar-Gilois (2.600m); 2º no Prix de Chantilly (3.000m); 2º no Gran Prix de Deauville (2.600m); 3º no Prix Eugene Adam (2.000m); ,1º no GP Jockey Club do Rio de Janeiro (2.400m); 1º no GP América do Sul (2.800m); 1º no GP Cidade de São Paulo (2.000m); 1º no GP São Paulo (3.200m); 1º na Taça Mappin & Webb (2.400m); 1º no GP Presidente do Jockey Club (1.609m) e 1º no GP Governador do Estado.
O que se verifica, novamente, é a visão de Linneo, uma vez que Formastérus foi um excepcional reprodutor com um grande número de filhos ganhadores clássicos, dos quais citamos especialmente: Carducci , Fontaine, Finesse, Goyo, Guaycurú, Helíaco, Heron, Jabuti, Maki, Quebec ,Quadrilha e Rocket.
Formastérus também se tornou um excepcional avo materno
Trinidad (GB), por Phalaris e Love Oil, milheiro brilhante, comprado por Linneo, foi um dos primeiros descendentes de Phalaris importados para a América do Sul, antecedentemente ao ramo Full Sail – Seductor - Sideral, que teve enorme importância na criação argentina. Trinidad era pai de Albatroz e avô materno de Helíaco, bi-campeões do GP Brasil. Assim é que, no Brasil, Albatroz foi gerado contemporaneamente aos grandes netos europeus de Phalaris, os campeões invictos Nearco e Pharis, luminares do turfe mundial. Observa-se, quando esses fatos são narrados, que Linneo, mais uma vez, antecipou os rumos da criação mundial. Trinidad correu na Inglaterra e aos dois anos foi 2º colocado no Ham Stakes (1.200m); 2º no Hurst Park Great 2 Year Old Stakes (1.200m); 5º no National Breeder's Produce Stakes (1.000m). Aos três anos foi 1º no Atlantic Cup (2.011m) e 2º no St. James Palace Stakes.
Dentre seus filhos mais proeminentes, além dos já citados, estão: Biga; o tríplice coroado Criolan; Carin; L’Atlantide; Tinguá e Veneziano.
Uma das feições mais características da obra de criação da família Paula Machado foi a de não se achar auto-suficiente e levar em conta o que acontecia à sua volta no mercado interno, procurando capitalizá-lo para o seu plantel. Assim, comprou a argentina Gallia, mãe de Aprompto, craque de outra criação e primeiro cavalo brasileiro a derrotar estrangeiros em provas de vulto. Gallia deu à criação de Linneo os clássicos Thompson e Vendôme. Desta descende o hoje extremamente florescente ramo de Reselá, cujas quatro filhas (Ebrea, Foix, Glad Girl e Hariola) tornaram-se mães clássicas, sendo Ebrea a mãe de Siphon, vencedor nos Estados Unidos da Hollywood Gold Cup e do Santa Anita Handicap, duas provas de Grupo I realizadas na areia em 2.000m, reduto até então considerado inexpugnável pelos americanos.
A dedicação de Linneo ao cavalo de corrida não se limitou apenas ao desenvolvimento de seu haras. Ele foi incessante na busca de tudo aquilo que trouxesse progresso e sucesso ao turfe nacional. Assim, em 6 de janeiro de 1918, após muita insistência e argumentação de sua parte, Venceslau Brás, então Presidente da República, sancionou a lei que auxilia os criadores, regula a atividade e estabelece a responsabilidade da Comissão Central dos Criadores de Cavalo Puro Sangue e determina um Stud Book Nacional.
Linneo desfrutava de enorme prestígio e recebeu diversos títulos junto ao governo francês. Nesse ano de 1919 a França o condecorou Cavaleiro; Oficial em 1923; Comendador em 1926, e Grande Oficial da Legião de Honra em 1935.
Com a inteligência e o tato de um fino diplomata, Linneo conseguiu firmar pactos de solidariedade entre a Societé d'Encorragement, na França, o Jockey Club Inglês e o nosso Jockey Club, tornando-se assim o embaixador do turfe brasileiro nos grandes centros hípicos mundiais. Tornou o país conhecido na Europa e conseguiu, também, acordo de solidariedade com Jockey Club Argentino, no Uruguay, e no Chile com o Club Hípico de Santiago e Valparaiso Sport Club.
Arrojado e de muita visão, Linneo sonhava em dotar o Rio de Janeiro de um hipódromo mais moderno, e para isso idealizou a construção de um hipódromo, o Hipódromo Brasileiro, também conhecido como Hipódromo da Gávea. Muitas pessoas influentes ligadas ao antigo Jockey Club não concordavam com a idéia. Pretendiam reformar o Prado Fluminense, mas a determinação de Linneo foi fundamental para que se procurasse um terreno na zona sul do Rio de Janeiro. Em julho de 1922, foi assinado pelo Dr. José Carlos Figueiredo o contrato de permuta dos terrenos da Lagoa Rodrigo de Freitas, propriedade da Prefeitura, por parte dos terrenos de S. Francisco Xavier, do antigo Jockey Club.
O Jockey Club Fluminense, fundado em 1868, realizou a última corrida em junho de 1926, quase um mês antes da inauguração do Hipódromo da Gávea. Curiosamente, Rival, criação e propriedade do Haras São José, ganhou o páreo de abertura da reunião de despedida do Prado Fluminense e também o páreo de abertura da reunião de inauguração do novo hipódromo. Quanto ao Derby Club, inaugurado em 1885 na área onde hoje se localiza o estádio do Maracanã, fez fusão com o Jockey Club em 1932, e daí resultou a nova entidade: o Jockey Club Brasileiro.
Nesse hipódromo, Linneo viveu muitas alegrias ao acompanhar a imensa torcida que popularizou Quati como “O Gigante Dourado” e as fabulosas vitórias de Zaga, Sapho e Tacy, uma égua de “muito coração”, como ele mesmo dizia, mas nunca chegou a assistir a vitória de um cavalo de sua coudelaria no Grande Prêmio Brasil. Isso porque, em 1939, quando o francês Six Avril ganhou o Grande Prêmio Brasil, ele não levava as suas cores, mas o azul costuras ouro (a inversão da farda do Haras São José & Expedictus) de propriedade de seu filho Francisco Eduardo.
Em agosto de 1942, porém, Linneo via-se diante de mais uma chance para conquistar este que é o maior prêmio do Brasil. No entanto, Albatroz, o cavalo que correria o páreo, pisou acidentalmente numa pedra e Linneo achou por bem poupá-lo da prova. Mais uma vez, o sonho de ver suas cores ganharem um GP Brasil estava adiado.
No dia 27 de setembro de 1942, a égua Dorilla, de criação e propriedade dos Haras São José & Expedictus, venceu o Grande Prêmio que homenageava seu querido pai, Francisco Vilella de Paula Machado. Como sempre fazia, Linneo subiu à sala de imprensa para compartilhar sua emoção com os profissionais do jornalismo. Ali pronunciou um profético discurso em que dizia: “Se eu morresse amanhã, minha obra não pereceria porque deixo meu filho como continuador.” Referia-se a Francisco Eduardo, que desde cedo o acompanhara e participara de suas atividades turfísticas. Justamente no dia seguinte a esse pronunciamento, Linneo sofreu um acidente fatal quando o avião que o levava do Rio para São Paulo caiu, matando todos os passageiros.
No ano seguinte, Albatroz venceu o Grande Prêmio Brasil. Francisco Eduardo seguiu a tradição do pai e foi para a sala de imprensa cumprimentar os jornalistas. Lá proferiu as palavras que sem dúvida estão presentes em cada vitória que os Haras São José & Expedictus obtêm: “As glórias deste dia pertencem inteiramente a meu pai, assim como tudo o que vier daqui por diante será sempre dele.”
Albatroz ganhou dois Grandes Prêmios Brasil seguidos e, no meio, um Grande Prêmio São Paulo. Os sucessos continuaram com a Tríplice Coroa de El Faro e mais tarde de Fontaine, que encabeçou a espetacular geração de fêmeas que incluía Finesse, Favinha e Finisterra. Em seguida, outra geração forte apareceu para colorir o prado de ouro e azul, a da letra “H”, com Holkar, Heron, Halcyon e Helíaco, que também venceu duas vezes o GP Brasil.
Estão intimamente entrelaçados com o sucesso do Haras São José muitos e inesquecíveis colaboradores que, ao longo desses 100 anos, marcaram a memória de todos os aficionados do turfe e têm servido de exemplo para os atuais profissionais. O primeiro deles é Francisco Bento de Oliveira, o “seu” Chiquinho, que começou no turfe no Hipódromo da Mooca, escovando animais da cocheira do Dr. Raphael de Barros, um dos fundadores do Jockey Club de São Paulo. Em 1914, ele foi trabalhar para o Haras São José e em pouco tempo já assumia o posto de treinador, onde ficou por 40 anos. Em 1918, ganhou seu primeiro GP Derby Paulista com J’Accuse; depois viria a ganhar muitos outros com Xyleno (1931), Veneziano (1934), Funny Boy (1936 e 1937), Amílcar (1939), Big Shot (1940), Carin (1941) e a conquista da Tríplice Coroa de 1936.
Na época em que muitos jóqueis vinham do Chile, onde a tradição de turfe é muito boa, para montar no Brasil, o Haras São José contou com as montarias de Juan Zuniga, José Salfate, Luiz Gonzáles, Andréas Molina e Oswaldo Ullôa. Os chilenos fizeram escola e foram os mestres durante vários anos, pois eram jóqueis excepcionais e sabiam conduzir os cavalos com muita técnica e inteligência.
O chileno Luiz Gonzalez montou por 19 anos para o Haras São José. Ele foi jóquei de Funny Boy, ganhou o Grande Prêmio Brasil de 1944 com Albatroz e teve a montaria de Quati na sua emocionante despedida das pistas, em que correu sozinho o percurso inteiro de 3.218 metros do prêmio “o Rei da Raia Paulista” sob a ovação do público. Por sua vez, Andréas Molina foi o único profissional a vencer o GP São Paulo como jóquei de Printer, em 1926, e como treinador de Albatroz em 1944. Ele também venceu o Derby Paulista de 1943 com El Faro, na condição de jóquei e de treinador do mesmo animal. Contrariando a regra de que um bom jóquei não é um bom treinador, ele conquistou os derbys de 1946 com Helíaco, de 1948 com Jabuti, de 1951 com Ninho e de 1967 com Gomil.
Mas o maior treinador de todos os tempos foi indubitavelmente Ernani de Freitas: 8 Derby, 8 Diana e 6 GP Brasil. Pouco tempo após largar o posto de jóquei no Stud Juliano Martins, em 1921, Ernani passou a treinar animais da importância de Myrthée para o Stud Paula Machado, onde permaneceu toda a sua vida. A partir de 1927 ele foi 26 vezes vencedor das estatísticas. Seu Nhonhô, como era respeitosa e carinhosamente chamado, conquistou aproximadamente 3.500 vitórias como treinador.
Francisco Eduardo de Paula Machado de fato deu continuidade à obra de seu pai e foi presidente do Jockey Club Brasileiro de 1960 a 1984. Acompanhado por seus irmãos, primeiramente Cândido e depois Linneo Eduardo, ele foi por longo tempo o comandante dos haras. E as vitórias continuaram com Jabuti, Maki, Ninho e Okinawa, para destacar apenas alguns.
Como seu pai, Francisco Eduardo esteve sempre atento tanto ao movimento e às tendências do turfe internacional quanto às iniciativas dos outros criadores brasileiros. Ele sabia valorizar elementos com potencial de renovação que a linhagem de outros criadores poderia trazer para o seu plantel, como bem exemplificam as aquisições de Clareira, Cligeuse e Intime Amie, três importantes éguas brasileiras; So Near, My Ladyship, Missolonghi, Fashion Dancer, e outras, na Europa. Do mesmo modo, acompanhou o que podemos chamar de surto da linhagem de Brantôme na Europa e trouxe para o haras o reprodutor Dragon Blanc, vencedor aos dois anos, mostrando uma precocidade pouco explorada na ocasião e que veio a se tornar cada vez mais procurada. Dragon Blanc é pai de Aileen, égua-base da qual descenderam os clássicos Aporé e Tibetano, ambos ganhadores de provas máximas internacionais do Rio e de São Paulo. Francisco Eduardo também mostrou boa visão de criador ao arrendar Blackamoor do Uruguai e comprar Fort Napoleon, Kublai Khan, Alípio, Karabas e Felicio como reprodutores.
Aliás, ao comprar Fort Napoleon, Francisco Eduardo reconheceu e apostou na característica de milheiro alongado deste animal, fator que na ocasião ainda não era prestigiado, mas que veio a se tornar desejável mais tarde. Como pai, Fort Napoleon deu os campeões Devon, Althéa e Turqueza. Como pai e avô materno foi líder das estatísticas durante anos consecutivos.
O Haras Expedictus, fundado em 1924 com a transferência de vinte reprodutoras para as instalações feitas numa propriedade rural no município de Botucatu, no estado de São Paulo, sempre foi um excelente centro de criação. A última grande geração de conjunto dos Haras São José & Expedictus (geração de 1997, letra “C”) foi gerada nessas terras.
Após anos de criação concentrados entre Rio Claro e Botucatu, os haras passaram a ter parte do plantel alojado no Haras El Alfafar, em Rojas, na Argentina. Tendo como responsável o veterinário Fernando Garcia, os resultados logo apareceram com Riton (recorde mundial dos 1.600m), Seaborg (GPs Carlos Pellegrini; 25 de Mayo), Sea Girl (bicampeã do 25 de Mayo), Uncle Sam, Volúpia, Afrodite, Alexine, Eddington e From The Sky.
Além disso, sempre seguindo os passos do fundador, foi na França que os atuais responsáveis pelos haras buscaram as éguas Yoko, Salluca e Bustira, mães de Riton, Romarin e Seaborg, respectivamente.
Itajara
A família Paula Machado soube construir uma infra-estrutura de criação erigida para o sucesso. Assim, não foi por acaso que o grande craque Itajara, um cavalo de exceção, surgiu nos Haras São José & Expedictus. Há todo um retrospecto de valor na produção de seu pai, o francês Felício, um dos melhores cavalos da criação de Daniel Wildenstein, que gerou, no Brasil, um enorme número de ganhadores de Grupo I, dentre eles dois tríplices coroados, African Boy e Itajara.
Não há exagero na afirmação de que um dos melhores cavalos criados no Brasil foi Itajara, tríplice coroado e ganhador invicto de sete carreiras, com tal superioridade que atraía enorme público de para o Hipódromo da Gávea.
Itajara comprovou a superioridade de sua raça também na reprodução, dando ao Brasil não só os destaques internacionais de Romarin (1989) e Siphon (1990) como também vários outros ganhadores clássicos e um importante elenco de reprodutoras.
Nos Estados Unidos, aos cuidados do treinador Richard Mandella e do jóquei Corey Nakatami, Romarin exibiu toda a explosão e o vigor de sua linhagem e inaugurou a presença do Brasil na primeira colocação das provas de grupo da América do Norte. Em seguida, foi Siphon que defendeu e honrou a tradicional jaqueta ouro e azul nas pistas norte-americanas ao conquistar sucessivas provas de grupo, como o Hollywood Gold Cup e o prêmio mais tradicional da costa oeste norte-americana, o Santa Anita Handicap. Sempre com excelente explosão de largada, Siphon não dava trégua a seus adversários e literalmente liquidou aqueles que tentaram acompanhar seu ritmo.
Nas últimas décadas do século XX, os Haras São José & Expedictus mandaram às pistas alguns corredores excepcionais como Orpheus, Obelion, Tibetano e a famosa geração da letra “A” (1975) com o tríplice coroado African Boy, a Apple Honey, ganhadora do Diana e mãe do Itajara, o Aporé, ganhador da Taça de Ouro e do GP Brasil, entre os maiores.
Francisco Saraiva, que trabalhou como auxiliar direto de Ernani de Freitas e com ele pôde aprender bem o seu ofício, foi o treinador no Rio de Janeiro, responsável pelas inúmeras vitórias conquistadas de 1979 até 1992. Seu sucessor, Dulcino Guignoni, veio não só para abrilhantar ainda mais essa história como também para acompanhar mais um frutífero movimento de modernização do Stud Paula Machado.
O centro de Treinamento Vale do Itajara
Em 1996, Lineu de Paula Machado, bisneto do Dr. Francisco Vilella de Paula Machado, o fundador do Haras São José, inaugurou um centro de treinamento na região serrana fluminense no intuito de profissionalizar ainda mais a atividade que lhe chegara por herança. No segundo ano de atividade no Centro de Treinamento Vale do Itajara, o treinador Dulcino Guignoni já tinha em mãos outra super geração: a da letra “V”, de 1994: Vernier, vencedor do Derby; Virginie, tríplice coroada; Verinha, que venceu o GP Diana em São Paulo e foi vendida para os Estados Unidos; Volúpia, ganhadora clássica e também vendida para os Estados Unidos; e ainda Vyatka, Valetza, Vassy, Very Princess, Valerie, Vaclav e Vesta.
O Centro de Treinamento sem dúvida alguma veio favorecer o trabalho desenvolvido nos haras e a criação continuou a brilhar como sua história merece e indica.
Apesar de ter dado muitas gerações de liderança imbatível nas pistas, talvez a que tenha tido um rol de provas mais importantes de todas tenha sido a geração da letra “C” de 1997. No total das provas de mais destaque do turfe no Brasil, essa geração trouxe para os Haras São José & Expedictus: um GP Zélia Gonzaga Peixoto de Castro (Chan Tong), dois GPs São Paulo (Canzone e Cheikh), um GP Barão de Piracicaba (Cristie), um Derby (Coray), um GP Diana (Coray) e um GP Brasil (Queen Desejada).
Da última safra de reprodutores, vale destacar Fast Gold, Know Heights e, mais recentemente, Golden Voyager. Do primeiro, destacam-se a tríplice coroada Be Fair e Queen Desejada, ganhadora do GP Brasil; do segundo, a craque Coray.
Coray, é uma filha de Known Heights (descendente do grande Mill Reef) em Pacatyba, esta pelo fenomenal Itajara, que depois de brilhar como um cavalo de corridas de absoluta exceção e como um reprodutor de qualidades incontestáveis surgiu como avô materno da maior importância. Coray foi seu primeiro produto como avô materno a ganhar uma prova de grupo. Para alguns, ela é a melhor égua criada pela família Paula Machado, sobressaindo-se mesmo a Virginie e a Be Fair, as irmãs tríplice-coroadas.
Golden Voyager foi trazido pelos Haras São José & Expedictus em 2003 para prestar serviços como garanhão no Brasil. Levado para o Stud TNT no ano de 2005, morreu depois de uma intervenção cirúrgica. Deixou no Brasil produtos nascidos em 2004 e uma geração em 2005. No Chile, foi um reprodutor de destaque, com uma produção de inúmeros ganhadores clássicos de provas de grupo.
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